post

Curso de Letras Libras da Ufersa fortalece educação inclusiva no ensino superior

Em Caraúbas, professora ministra aula em Libras | Crédito/Carlos Adms/Assecom/Ufersa

Em Caraúbas, professora ministra aula em Libras | Crédito/Carlos Adms/Assecom/Ufersa

Dedos em movimento, mãos balançando e todo um festival de expressões faciais como forma de substituir as palavras que não podem ser faladas nem ouvidas. Foi dessa maneira que a professora Márcia Fernandes, 36, aprendeu o conhecimento que hoje traz à Universidade Federal Rural do Semi-árido, em Caraúbas. Esta cearense de Fortaleza, formada em Letras com habilitação em Libras pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ficou surda com apenas 2 meses de idade, mas ela nunca se entregou à limitação.

Antes de chegar a Ufersa, em julho, Márcia já tinha ensinado no IFRN, na UERN e por último na UFRN, tudo via contratos. A aprovação no concurso para lecionar no Câmpus de Caraúbas trouxe uma realização profissional sem tamanho para ela. “Eu tinha esse anseio pelo concurso público. Sofri bastante como contratada. Fazia provas e perdia, mas depois que passei, veio a satisfação”, comemora a professora.

Niáscara e Márcia são as duas primeiras professoras de Libras da Ufersa | Crédito: Claros Adams/Assecom/Ufersa

Niáscara e Márcia são as duas primeiras professoras de Libras da Ufersa | Crédito: Claros Adams/Assecom/Ufersa

Exemplo de superação semelhante, Niáscara Valesca, 40, também enfrentou vários obstáculos até conseguir entrar no quadro docente da Ufersa. A professora mossoroense ficou surda depois de contrair uma meningite aos 2 anos. Com o esforço da família, ela foi aprendendo a ler os lábios como forma de se inserir no meio social. Mas as dificuldades eram muitas, principalmente pra ingressar na faculdade. “Eu cheguei a fazer 10 vestibulares e sempre era reprovada por conta da redação” relata. O esforço deu resultado e ela conseguiu concluir o curso de Letras-Libras também pela UFSC. Hoje, efetivada na Ufersa, Niáscara ensina e é aluna do mestrado da universidade. A meta é um dia ser doutora pela Universidade de Gallaudet, em Washington D.C., nos Estados Unidos. Uma instituição que é referência mundial para os surdos.

Márcia e Niáscara são as duas primeiras professoras surdas efetivadas pela Ufersa. Ambas foram convocadas para fazer parte do corpo docente do curso de Letras-Libras, o primeiro a ser implantado no interior do país por uma universidade federal. A licenciatura começou a funcionar no semestre passado com uma turma de 20 alunos. Hoje já são 35 universitários cursando e aprendendo a língua dos sinais.

Curso trouxe estudante de Minas Gerais para Caraúbas

Timótheo optou pelo curso de Libras, em Caraúbas, para se tornar professor universitário

Timótheo optou pelo curso de Libras, em Caraúbas, para se tornar professor universitário

Quando soube que a Universidade do Semi-Árido estava disponibilizando o curso de Letras-Libras, Timótheo, de 26 anos, arriscou uma vaga pelo SISU e se deu bem. O jovem, que já tem licenciatura em História, saiu de Caratinga, no leste de Minas Gerais, direto pra Caraúbas. Veio se especializar numa área que só cresce. “Desde os 9 anos que tenho curiosidade pela língua de sinais, mas só aprendi com 18 quando frequentava uma igreja. Com o curso, a pessoa pode escolher onde quer trabalhar isso graças a uma legislação já em vigor que está favorecendo o profissional e os surdos. O mundo das letras-libras é um mercado novo e em plena expansão”, avalia o mineiro que já tem alguns cursos de extensão na área e que pretende lecionar quando terminar o ensino superior. A previsão é que a Ufersa forme sua primeira turma de Letras-Libras no segundo semestre de 2018.

Segundo a coordenadora do curso em Caraúbas, a professora Monaliza Rios, os alunos começaram a estudar a teoria, mas em breve vão contar com aulas práticas. Ao todo, serão 4 laboratórios, sendo 2 específicos direcionados a educação assistiva e a parte multimídia. Todos com obras já em andamento. Um estúdio também deve ser instalado para o desenvolvimento das atividades. O projeto pedagógico da licenciatura ainda prevê a efetivação de mais 6 professores da área em breve e de pelo menos 8 tradutores e intérpretes de língua brasileira de sinais para fortalecer o trabalho dos outros 4 que já estão em atividade nos campus de Mossoró, Angicos e Caraúbas. A expectativa é de que o campus de Pau dos Ferros também receba 2 tradutores e interpretes.

Para Monaliza, a universidade deu um salto significativo na inclusão dos surdos. “Cada vez mais as universidades federais estão cumprindo o seu papel social. Elas não são mais uma elite no país e a Ufersa não foge a essa regra. Uma universidade que só tem 9 anos e um campus com apenas 4 e a gente já ter essas políticas de inclusão, eu acho isso maravilhoso.” A coordenadora também fala da experiência em conviver com as professoras surdas. “As professoras têm me ajudado muito. Hoje em dia eu me arrisco a falar com elas em libras e vou aprendendo cada vez mais. São pessoas que têm muito a contribuir. Pela experiência delas, o campus tem muito a ganhar com esse trabalho em conjunto”, destaca Monaliza.

Curso básico para servidores

No Câmpus Central, em Mossoró, 37 servidores, entre técnicos administrativos e professores, têm a oportunidade de participarem do curso básico de capacitação em Libras. Com 180 horas, o curso está dividido em três módulos de 60 horas. Iniciado no último mês de setembro, o curso irá prosseguir até dezembro de 2015.

[ufersa-cite credits=”Timótheo, professor de Libras” align=”alignright”]Com o curso, a pessoa pode escolher onde quer trabalhar isso graças a uma legislação já em vigor que está favorecendo o profissional e os surdos. O mundo das letras-libras é um mercado novo e em plena expansão[/ufersa-cite]As aulas diárias de 50 minutos, curso de Libras é 100% sinalizado com toda a metodologia praticada em sala de aula. “É uma iniciativa pioneira que preza pela qualidade do aprendizado”, afirma o instrutor Ronald Soares Shyu, tradutor e intérprete de Libras da Ufersa Mossoró. Ele lembra que nenhuma língua o aluno aprende num curso de pequena duração. A metodologia empregada pelo instrutor Ronald Shyu é com aulas expositivas e de campo; visitas técnicas; seminários; leitura e discussão de textos; análise de vídeos, e relatórios de filmes.

A proposta do curso básico de libras é habilitar o servidor para a prestação de atendimento básico em língua de sinais brasileira, bem como possibilitar aos servidores conhecerem as principais diferenças das línguas orais-auditivas e vísuo-espaciais, além de compreender diálogos cotidianos em libras e de reconhecer a “cultura surda”.

Leia mais sobre o curso de Letras Libra na edição de  Set/Out da Folha Ufersa disponível na plataforma Issuu